quarta-feira, 4 de março de 2009

VIII - O gosto de sangue

Tudo começou com um abraço... O abraço ...

E após a devida corte ele deitou-me em sua cama... Para mostrar-me o seu mundo.

Não me lembro exatamente do que aconteceu, mas os últimos sentimentos dos quais consigo me lembrar foi que naquela noite eu senti prazer, medo, angustia, dor, insegurança, e outras sensações que não sei como nomear.

Até que senti em meus lábios o gosto de algo que me retomou a vida, um divino gosto amaldiçoado de algo que eu nunca tinha provado. E eu queria como eu queria aquele líquido vivificador. Acima de tudo e de todos eu sentia o cheiro eu ouvia o pulsar.

Quando me percebi agindo como um animal, um ser irracional e monstruoso. Vi diante de mim uma colega se sala, ensangüentada, inerte, ainda quente e eu debruçada sobre ela, roubando-lhe a vida sem hesitar.

Caí em desespero, era a cena mais assustadora que eu já tinha visto principalmente pelo fato de eu estar compondo-a. Acalmei-me depois de um tempo, muito tempo.

Eduard entrou no quarto e perguntou como eu estava. Eu estava confusa, preocupada com a menina, teria eu matado-a? Eu era uma assassina? Um monstro? Um demônio?

Um ser amaldiçoado pela noite.

Ela ainda estava viva, muito machucada e fraca, mas ainda viva. Eduard a retirou de lá e me apontou o banheiro com um: “- Acredito que queira um banho, se acalme, e depois conversaremos". O que eu queria de verdade eram respostas mas uma banho não cairia mal, afinal parecia que eu tinha saído de um frigorífico. Minha cabeça rodava, notei meu corpo frio como de um morto, não sentia mais meu coração bater. Era como se eu tivesse morta.
Você morre...
... E não morre...



Vampiros não existem... como que queria passar na cara de muita gente de isso não é verdade...
Mas eu estava chocada demais na hora para fazer brincadeiras.

Depois veio a recusa ao sangue. Depois de alguns dias eu estava exausta, passava a manhã inteira recusando-me a cair no sono fúnebre que acometia a casa, mas não estava tendo muito sucesso.
Custava-me entender que assim como a casa eu estava morta...

E além do cansaço a fome. Uma fome de corpo inteiro. Mesmo com Eduard (Meu Senhor) dizendo que o ato de alimentar-se é uma "troca recíproca" ou que "o beijo é uma arte", eu não via beleza alguma nesse ato que mais me parecia animalesco e bestial.
O que ainda havia de humano em mim recusava-se à idéia de consumir vidas para manter a própria ...

Quando o manto negro cobriu o céu, meu senhor me convidou a acompanhá-lo numa festa, e eu já entendia que ir a uma festa era outro nome para cear. Durante a festa encontrei alguns conhecidos, Rafael, Marcus e Gabriel meu ex-namorado. Ele pediu para que nos afastássemos da multidão um pouco e eu estava fadigada demais para ouvi-lo insistindo, então atendi ao pedido.

“Em nome dos bons tempos”. Uma frase muitas vezes repetida. “Abraços de amigos”. Conversas sobre o passado, uma época a qual eu tinha o costume de morder pescoços sem ter que me preocupar com assuntos relacionados à Máscara, nada de sangue ou alimento, mordia apenas porque gostava de morder. Agora eu me pergunto... será que realmente eu nasci para ser um vampiro?! Porque... Eu realmente sempre gostei de morder... Confesso que na hora eu não estava pensando nisso, estava muito mais me controlando para não mordê-lo.

Proximidade
Não pude resistir por muito tempo, eu ouvia o pulsar em suas veias e lembrava do gosto inigualável que tinha o sangue. E confesso que na proximidade em que estávamos não resisti à tentação. E num abraço minhas presas foram ao encontro de seu pescoço.


E lá estava eu novamente a saciar meus impulsos, imersa numa relação de culpa e prazer, quando fui surpreendida por um “Já basta! ”.
Eu estremeci.
Eduard continuou: - Seja mais prudente, mais um pouco e você passa dos limites. Seja mais discreta, por favor, e cicatrize a marca para que ele não perceba quando acordar. Uma vergonha imensa me invadiu com a presença de Eduard, embora ele agisse com naturalidade, no tom da sua voz havia mais preocupação que desaprovação. Mas, mesmo assim, eu não queria que ele me visse naquele estado.

Alguns instantes depois Lucas despertou, eu fingia dormir a seu lado, ele acordou-me carinhosamente e disse que nunca tivera uma noite tão encantadora. Ele parecia extasiado. Sua insistência em me reencontrar me confundia. Ele deveria me odiar, deveria me detestar pelo mal que eu lhe causava, no entanto ele tentava com toda a sua persuasão, suas desculpas e argumentos reatar nosso relacionamento.

Foi quando eu entendi que tudo não passava de uma troca, assim como Ed falara, nós oferecíamos uma noite inigualável e eles nos ofereciam seu sangue.
Algo raro por algo precioso, nada mais justo.

Realmente uma troca de interesses...
... uma arte.


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