quarta-feira, 11 de março de 2009

C'Est la vie ...

O Casarão era belíssimo, antigo e rústico. Nele perdíamos a noção de tempo. Como se nos tele-transportássemos para uma época diferente da nossa. Os criados passavam pelos corredores sempre muito atarefados, andavam em passos rápidos, mas sempre que percebiam nossa presença nos cumprimentavam - Bonne nuit lady...-
Não importava o que estavam fazendo eles sempre interrompiam, qualquer um de qualquer idade, como se fosse uma regra, uma obrigação. Eu ficava meio sem jeito diante de tantos "Avec votre permission, Miss..." e "Bonsoir madame".
Os poucos que falavam minha língua tinham um sotaque carregado. Tudo naquele lugar era místico. Quando a noite avançou u pouco mais recebi em meu quarto a visita de um criado, um jovem rapaz.
- Madame...vous avec votre licence, puis-je obtenir?
- Boa noite...- Estava óbvio que eu só tinha entendido o "madame" da frase. Tão óbvio que até ele mesmo percebeu e começou a falar um português, meio falho, mas incomparavelmente mais compreensível que o francês de outrora.
- Posso entrar?
- Pode, claro, sinta-se a vontade.

(XXX)

Ele se aproximou estranhando a atitude da jovem. Ela era bela e encantadora. Uma beleza infinita que nunca iria padecer. Julian era fascinados por esses seres cuja simples presença é capaz de modificar tudo ao seu redor.

- Precisa de alguma coisa miss Müller?

- Não, estou muito bem. Agradeço a preocupação.- E sorriu. Julian pareceu desconcertado, essa não era exatamente a resposta que ele estava esperando.

- La senhorita... não está com fome?- Dessa vez que pareceu desconcertada pela pergunta foi Telassim. Ela inclinou um pouco a cabeça deixando evidente sua surpresa diante da pergunta do rapaz.

- Eu estou bem, obrigada.


- Se precisar de alguma coisa...
Je serai disponible. Merci

- Bem... Você poderia ficar aqui um pouco e me ajudar com o francês... ou tem algum problema?


- Je n'y vois pas d'inconveniente...
digo, não vejo problemas, mademoiselle.

Passaram parte da noite treinando o francês.E assim seguiram as noites, como passos ensaiados da mesma dança.

- A senhorita está com fome?
- Não ... Você pode me ajudar no francês
- À souhait (como quiser)

As 8 horas ele batia a porta... Fazia a mesma pergunta ela dava a mesma resposta e fazia o mesmo convite. Porém, ao fim da terceira noite Julian resolveu acabar com sua anciedade, esperava que ela o entendesse e não encarasse sua atitude como um desrespeito..

- Je ne comprends pas

- Como?
- sem entender, embora estivesse estudando a língua.

- Não compreendo...


- O quê?-
Virando-se, para ficar completamente de frente para ele.

- Mademoiselle
Telassim ... Meu sangue não é de seu agrado?

-
Ãn?

- Se não for é só pedir que outro venha em meu lugar.

- Peraí...calma, deixe-me ver se eu entendi. Você quer que eu beba do seu sangue?

- s'il vous plaît ... On aura tout vu!
(por favor... isso seria demais) Mas a senhorita precisa se alimentar, e se eu não sou do seu agrado...

- Então é por isso que toda noite você pergunta se eu estou com fome?!


- si justement


- Ah...agora eu entendo...
- Ouve um estante de silêncio, onde cada uma das parte esperava a iniciativa da outra.

-
Mademoiselle?

- Eu não costumo fazer esse tipo de coisa, nunca mordi alguém que estivesse consciente que eu a estava mordendo...
-Com a cabeça baixa Tel deu um sorriso forçado... Que situação... olhou fixamente para Julian e lhe perguntou- Porquê você oferece seu sangue?- Julian demorou um pouco para entender que aquela era uma pergunta que ele deveria responder. Deu um leve sorriso e começou...

- Para mim é uma honra,
- Parou um pouco como se procurasse as palavras - espérer un journée... ser... como vocês, mas acredito que não seja... como dizer.... intéressant ... o suficiente... à entrer dans la Famille... então eu me regozijo com o fato de... de...mon sang est utile... meu sangue... ser útil.

Telassim o olhava levemente séria tentando entender a linha de raciocínio do rapaz. Ela entendia mas não compreendia. Ele desabotoou a camisa e afastou a gola expondo o pescoço, virou o rosto para o lado e fechou os olhos.

- s'il vous plaît mademoiselle...
Telassim se aproximou, segurou o rosto dele com suas duas mãos. Virou o rosto calmamente fazendo com que ele olha-se nos olhos dela. Aqueles olhos de cor indecisa que dança entre o azul o verde e o castanho.

- Devagar, vamos fazer as coisa de uma outra forma...
- Telassim estava acostumada a conquistar sua "comida", dessa vez não seria diferente. - Vamos tirar esse colete e essa gravata, sim?!

- Senhorita?
- Julian não entendia o porquê da demora dela, ela já tinha entendido o otivo de sua presença alí e aparentava ter acatado a idéia.

- Quando eu realmente morder, você não vai nem perceber...

Embriagar sua presa num emaranhado de desejo.
Turvar sua visão cultivando seu vício. Telassim imaginava que usavam aquele rapaz apenas como um pote de onde tiravam sangue. Ela não queria que ele se sentisse assim. Queria que ele desejasse que ela o seduzisse todas as noites.
Era a forma de compensar o sangue que ela lhe tirava.
A vida que ela lhe roubava.
E para quem pensa que eu perdi a vergonha e me entreguei a um rapaz - com todo respeito- qualquer está muito enganado e, certamente, não me conhece. Só quero afirmar que para proporcionar uma bela noite não é preciso envolve-la com o libido. Há outras formas de encantar. E eu estou treinando isso. Mas fazer o quê... C'Est la vie ...
É a vida...



Ah, e além de um prato de comida eu ganhei um professor de francês... olha que coisa maravilhosa.


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